Curso de Formação para Dirigentes tem nova turma em São Paulo

Relato de ex-dirigente da base de São Paulo, João Vaccari Neto, traçou panorama da luta dos bancários desde a resistência à ditadura militar até os dias de hoje

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Uma nova edição do curso de Formação Sindical para Dirigentes – módulo 1, da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), foi realizada, quarta e quinta-feira, dias 6 e 7, na sede do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, no Centro da capital paulista. O encontro reuniu 34 dirigentes de entidades sindicais bancárias de todo o Brasil, entre elas de Alagoas, Brasília, Rio de Janeiro, Pará, Amapá, Araraquara, Guarulhos, Limeira, Paraíba, Patos de Minas e Piauí.

Baseada nas teorias de Paulo Freire e de Lev Vygotsky, a metodologia do curso se funda na construção do conteúdo de forma interativa, como leitura em grupos e apresentações, para estimular debates e o compartilhamento de conhecimentos. Neste primeiro módulo, os temas históricos e teóricos focam na formação do movimento da classe trabalhadora, desde a Revolução Industrial, no século XVIII.

O programa enfatiza momentos marcantes da organização dos trabalhadores no Brasil, como a escravidão e sua herança social e cultural, o movimento anarquista e as greves do começo do século XX, o sindicalismo atrelado ao Estado no tempo de Getúlio Vargas e a estruturação da ação sindical de categorias importantes, bancários, dos metalúrgicos e professores, desde então. Vários recursos são usados para a dinâmica das atividades, como documentários sobre o papel dos sindicatos na era Vargas, o golpe militar de 1964 e a resistência à ditadura que o seguiu até 1985 e a construção do movimento sindical bancário.

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Para o formador da Contraf-CUT, o professor de História José Luís Vasquinho Paredes, “o curso é centrado na participação de todos, o que torna as atividades valiosas tanto para os alunos, como para nós que ministramos, pois isso garante que a aprendizagem considere também a experiência de cada integrante do grupo”.

Vaccari

O segundo dia do curso tradicionalmente conta com a participação de um convidado, que traz o relato de sua experiência. Nesta edição, o convidado foi o ex-presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, João Vaccari Neto. Ele lembrou que começou a militar no Sindicato em 1978, “e logo depois, em 1979, nós, da oposição ganhamos a eleição, e o bloco hegemônico naquela ocasião continua ainda hoje na direção da entidade”.

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Vaccari observou que sua atuação acompanhou todo o processo de abertura política no Brasil, desde a anistia, em 1979. Em sua apresentação, ele fez um apanhado de toda a redemocratização. “Trabalhamos na fundação do PT e da CUT, nas eleições de 1982, quando Lula foi candidato ao governo paulista, lutamos pelas Diretas-Já em 1984, enfrentamos o governo Sarney e fomos para as eleições diretas em 1989”, resumiu. A partir dessa experiência, o dirigente observou que, “ao mesmo tempo em que avançou o processo político da redemocratização, o movimento sindical também se fortaleceu”.

Sobre o caso específico do movimento sindical da categoria bancária, Vaccari fez um relato com o olhar de quem viveu todos os seus lances. “Em 1979, era uma luta dura, tivemos 14 dirigentes cassados, um problema que vinha desde o golpe de 1964, com várias lideranças demitidas, inúmeros perseguidos, mortos, como o Aloísio Palhano, e outros ameaçados, como o Luiz Gushiken”, enfatizou.

À medida que os militares perdiam força e credibilidade, o movimento sindical se fortalecia. Vaccari avaliou a greve nacional dos bancários, de 1985, dentro desse contexto. “Antes da greve, tínhamos apenas as bases de São Paulo e Porto Alegre. Então, começamos a apoiar as oposições e assim ganhamos várias capitais, estados e cidades importantes”, recordou. “Desse tempo, vem a profunda modificação, com a conquista de grandes sindicatos, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Paraíba, Ceará e outros”, pontuou.

O dirigente lembrou que, “até 1986, os banqueiros negociavam com vários polos no Brasil, com termos diferentes para cada região, e então começamos a organizar a negociação nacional. Como eles tinham uma comissão permanente para todos os polos, também montamos uma mesma comissão para todas as negociações. O que temos hoje, na negociação nacional, começou assim”, pontuou. “O avanço se traduz na campanha nacional unificada, na Convenção Coletiva de Trabalho da categoria. Conseguimos, em 1991, convencer bancos e sindicatos pela assinatura de um contrato nacional. Hoje somos a única categoria, que inclui os setores público e privado, que assinam um único contrato”, completou.

Vaccari também avaliou a forma do processo de negociação com os bancos como uma grande conquista da categoria. “Nós respeitamos a liberdade e a autonomia de cada sindicato: essa é a grande diferença. Todas as federações e sindicatos assinam, e isso garante a participação das bases, num amplo processo democrático”, disse.

Essa convicção, para ele, é a base de atuação da Contraf-CUT. “Até 1991, caminhamos juntos com a Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Empresas de Crédito (Contec), mas quando conquistamos maioria e o grupo que perdeu se negou a aceitar, houve a divisão e começou o processo que culminou na estruturação da Contraf-CUT”, contou. “Os procedimentos são bem diversos: enquanto na Contraf vence a maioria, a Contec é autoritária, centralizada na figura do seu presidente”, enfatizou.

Testemunho de quem viveu

Para o secretário de Formação da Contraf-CUT, Rafael Zanon, “muitas vezes, não temos elementos para entender como exatamente o movimento da categoria chegou ao estágio em que está, e o depoimento de pessoas que participaram dessa trajetória nos ajuda a entender todo esse processo. Com esse conhecimento, o sindicalista, o militante, se sente mais à vontade e com mais segurança para integrar o movimento”.

Zanon enfatizou a relevância da atuação sindical de Vaccari. “Ele é uma liderança que participou de toda a organização do movimento da categoria bancária, num período muito difícil da vida nacional. É fundamental que nós possamos conhecer a história que nos antecedeu”, afirmou. “Quando conhecemos os fatos pelo testemunho de quem viveu esse momento, temos a dimensão da importância de nossa luta, que é fundamental não apenas para bancários e bancárias, mas para a classe trabalhadora e toda a sociedade brasileira”, completou.

O secretário também faz um balanço positivo do curso de Formação Sindical para Dirigentes, já ministrado em 11 turmas para bases de todo o país. “Desde o ano passado, já tivemos 330 participantes neste curso, em atividades presenciais, o que é um conjunto de dirigentes muito significativo”, disse. “Durante os estudos e as discussões de temas fundamentais, também estamos sempre desenvolvendo ferramentas de luta, que são úteis a todos que se dedicam às atividades sindicais, por isso pensamos que a formação deve ser um processo contínuo”, completou.

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